Beleza, mas agora a gente faz o que com isso?
- zepanizzi

- 13 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de jul.
Inspirada no título do último disco do Rubel, lançado no final de maio deste ano - recomendo a escuta - venho discorrer sobre um assuntinho chato que creio, aliviada, não ser chato só para mim.
Há uns cinco anos atrás, após uns seis de profissão fotógrafa, me incomodei, pela primeira vez, ao ver minhas fotografias sendo distribuídas deliberadamente para diversas empresas que não haviam me contratado ou contatado.
Quando comecei a investigar o incômodo, descobri que ele tinha toda a razão para existir, ufa.
No meu jeitinho lua-em-escorpião-marte-em-leão, não fui nada sutil na mudança das políticas de uso das minhas fotografias. Hoje até gostaria de agir diferente, mas falharia com sucesso uma vez que não é possível alterar a posição dos planetas.
Logo antes de partir pra essa nada sutil transição, conversei com um colega de profissão, com muitos mais anos de experiência do que eu, e que eu sabia adotar tais políticas, para me certificar de que eu tinha entendido tim-tim por tim-tim.
Nesse momento, ele me contou que estava em contato com outros colegas, de outras partes do Brasil, estruturando um coletivo de fotógrafos de arquitetura, com o intuito de unir forças para pulverizar tais tim-tins por tim-tins, e me convidou para participar. Topei.
Beleza, mas agora a gente faz o que com isso?
Sabendo de todos os saberes, na prática é que o bicho pega.
Seguir o que é justo e pautado por lei, neste mercado um tanto quanto selvagem, pode ser uma aventura desafiadora.
Anyway…
Mudei, de fato e radicalmente, os termos de uso do meu trabalho. Levei a sério a lei de direitos autorais em um mundo onde poucos sabem como ela é e outros nem sabem que ela existe.
{Ps.: Hoje, após cinco anos, o coletivo é uma associação, com mais de 250 fotógrafos, que faz um barulho tremendo em todo o setor que produz e consome fotografias. Conheça (caso ainda não conheça): CONAFARC}
Aceitamos o risco, ele é real.
Perdemos trabalhos, clientes, contatos e ganhamos fama de diversas e injustas ''coisas'', apenas por escolher dizer: não, não é permitido enviar as fotografias para outras empresas, a não ser que paguem por elas.
Criar fotografias é o trabalho do profissional fotógrafo.
A era digital deu a ilusão de que tudo é “replicável” e, portanto, “gratuito”. Mas não é porque pode ser enviado por e-mail que deveria ser.
O uso da fotografia segue as mesmas diretrizes do uso de um canal de streaming, por exemplo.
Ao assinar o NETFLIX, pagando por uma tela, não é possível assistir ao mesmo tempo que um amigo, em aparelhos diferentes. Mas é possível pagar um valor um pouco maior por duas telas, e dividir a assinatura.
O motivo pelo qual o Netflix adota esses termos de uso, é tangido pela lei de direitos autorais, que pauta todo e qualquer trabalho criativo. Não é possível comprar o Netflix (ok, é, mas não é sobre isso) mas é possível adquirir uma licença de uso.
Ao adquirir essa licença, você pode usufruir do serviço, mas não é dono do produto.
Não é possível comprar uma fotografia, o que você compra é o direito de uso sobre ela, pois a fotografia sempre será propriedade do fotógrafo, a música do compositor, o filme do diretor, o projeto do arquiteto, a pintura do pintor, a ilustração do ilustrador, a logomarca do designer.
Contrata-se o SERVIÇO do artista/criador, e paga-se pelo uso da criação.
Cada CPF/CNPJ que desejar utilizar uma criação precisa pagar por essa utilização. Seja esse produto digital ou físico.
Um designer de produto contratado por uma empresa para desenhar uma coleção, recebe royalties por cada peça vendida que leve a sua assinatura.
Os exemplos são infinitos, e a regra é uma só.
Ninguém é obrigado a saber a lei de direitos autorais, a não ser que tem sua profissão pautada por ela, assim será capaz de informar seu cliente, adotando então práticas que não prejudiquem ele mesmo, os colegas de profissão e o setor como um todo.
Num cenário perfeito, todos os profissionais da fotografia adotariam a mesma política assim os contratantes ‘’não teriam para onde correr’’, mas me ensinaram que cenários perfeitos não existem e a gente deve fazer o melhor com o que temos no momento.
No momento vejo que cada novo profissional que entra para associação e/ou pratica as ideias que defendemos, é uma pequena vitória que respinga em todo profissional criativo que, após a era digital, vem sendo cada vez menos respeitado e menos valorizado.
Escolher seguir por esse caminho pode parecer sinuoso mas, a longo prazo, todo o setor colherá os frutos de uma classe mais justa e devidamente valorizada.





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