Já tem uns dias que estou refletindo sobre ''zona de conforto'' e as postagens (des)motivacionais nas redes sociais sobre o tema, que já é bem batido e começou há um bom tempo atrás, na explosão de autoajuda via instagram.
''Saia da sua zona de conforto''
''Coisas boas acontecem fora da sua zona de conforto''
E diversas outras versões, muito mais maquiadas do que essas.
Na reflexão, voltei alguns anos…
Lembrei das polêmicas sobre mensagem subliminar* em propagandas/programas da Globo. Eu era criança e achava o assunto curioso. *Informação ou estímulo que é apresentado de forma imperceptível ao nível consciente, com o objetivo de influenciar as decisões e opiniões de alguém, sem que a pessoa se aperceba.
Lembrei também de ler sobre métodos de tortura utilizados pela CIA, onde a repetição de cenas e sons em um projetor era capaz de enlouquecer (talvez permanentemente) o sujeito que assistia. (Fui longe, mas nem tanto).
Essas práticas, que antes eram consideradas ilegais, apenas "trocaram de roupa" e hoje são vistas como normais, embora o efeito continue o mesmo (ou seria pior?). Através dos nossos inseparáveis celulares, somos bombardeados por conteúdos que não escolhemos, mas que têm o mesmo poder de grudar no cérebro > através da repetição. E é exatamente isso que os "gênios" do marketing ensinam: seja repetitivo, apareça em tudo o tempo todo, use esses gatilhos aqui e canse seu público, até que ele compre.
Voltando para o assunto inicial, a zona de conforto…
O que eu quero trazer como reflexão é simples:
Conforto é bom
Nós merecemos conforto
Nós precisamos de conforto
Nós podemos desejar, construir e permanecer na nossa zona de conforto.
Cada um tem seu próprio conceito de conforto e sempre vamos buscar por ele, consciente ou inconscientemente.
Todas essas histórias (pra boi dormir), postadas e compartilhadas massivamente, de que não podemos estar nas nossas zonas de conforto, nos conduzem a questionar os momentos em que estamos em paz, sentindo prazer, quietude, tédio, calmaria.
Fazem com que rejeitemos o que temos e desejemos o que não temos (a lógica do consumismo).
Fazem com que o desconforto seja tratado como algo bom e que nos sintamos eternamente insatisfeitos.
Não podemos confundir esforço com desconforto.
Trazendo uma visão do yoga, aprendi que o objetivo da prática é encontrar conforto na postura, por mais complexa que ela pareça e seja. Não adianta estar desequilibrada, caindo, sem respirar, mas na postura.
É claro que existe uma lógica por trás do conceito de ''saia da sua zona de conforto'':
A sociedade do desconforto e a sociedade do consumo se retroalimentam.
As grandes empresas de tecnologia, que hoje comandam o mundo, nos induzem a abrir mão de tudo que não se pode comprar. E a sua melhor amiga, a indústria farmacêutica, nos oferece o remédio perfeito para disfarçar o mal que isso causa.
O silêncio, a solitude e o tédio já não confortam
O sol, a lua e as estrelas, as árvores, o ar puro já não confortam
A conexão, os encontros presenciais com quem amamos
A comida simples caseira, o blusão velho embolotado já não confortam.
A promessa é sedutora: não pare!! Trabalhe (produza [pra eles]) incessantemente, hoje, para poder comprar isso e aquilo (geralmente artigos supérfluos e com obsolescência programada) amanhã.
Status atualizado para 2024: o que conforta é a agenda lotada, o restaurante caro e a respectiva foto do prato, o terceiro turno trabalhado, os likes e matches, o retiro vegano no lugar paradisíaco, a roupa da marca X, os medicamentos Y e Z e o catálogo vazio da netflix.
A degradação da saúde física e mental é o que traz orgulho e enriquece os grandes, que nos contam, diariamente, que a vida é assim mesmo.
Não é atoa que as florestas estão pegando fogo
Elas são um reflexo da nossa mente e corpo
Somos natureza
/No happy endings today/
__
Fotografia: Serra Grande, Bahia - Janeiro de 2024
Ps.: escrevi o número do moço do berimbau numa conversa do wpp, pra poder mandar essa fotografia pra ele, perdi todas as conversas do wpp / Me ajude a encontrá-lo, haha
Comments